Turbantar-se: Um ato de autoamor e ancestralidade

Turbantar-se_ Um ato de autoamor e ancestralidade

Turbantes são feito coroas. Heranças ancestrais! Cobrir a cabeça por compreender a necessidade de incorporar ao hábitos diários símbolos culturais enquanto proteção e autoafirmação é de suma importância para o processo de tornar-se negro e, para o reconhecimento da negritude. Fazer isso, a partir da utilização de turbantes permite um resgate cultural da ancestralidade, transformando-o num elo de ligação estética e identitária. 

Por definição, o Turbante constitui-se em um pedaço de tecido, com acabamentos ou não, que pode ser utilizado em vários formatos. Com tecidos dos mais variados tipos e, das mais diversas cores, simboliza força e proteção ancestral. De todo modo, o Turbante tem percorrido gerações, se ressignificado e sobrevivido aos processos de apropriação cultural vivenciados diariamente na sociedade. Atualmente, ele relembra histórias de mulheres negras, simbolizando luta, resistência e alimentando o empoderamento feminino por conta de sua significância histórica para o fortalecimento da identidade negra.

Representando um símbolo de resistência do povo negro – luta, empoderamento, identidade e especialmente ancestralidade, sobretudo para as mulheres negras – o turbante está para além de um pedaço de pano florido, ou simplesmente, um item da moda. Trata-se de uma indumentária herdada culturalmente, que em países africanos possui finalidades funcionais, como proteger a cabeça ao carregar bacias, madeira e outros utensílios. No Brasil, quando pensamos em turbantes, logo vem à mente a imagem das baianas de acarajé, por exemplo. De fato, por muito tempo, além de ser utilizado como adereço estético, também possuiu função para que elas carregassem suas bacias de acarajé para comercializar.

Muito utilizado nas religiões de matrizes africanas como fundamento de proteção do Ori – cabeça em Yorùbá. O Ori é um importante conceito metafísico espiritual e mitológico para os Yorubás, enquanto representação material e imaterial de um indivíduo, captando constantemente energias oriundo da natureza para equilibrar a mente. No candomblé, os ojás — como são chamados —, além de mostrarem que a pessoa que o usa “é do axé”, revelam o gênero do orixá de cabeça pela amarração e, expressam hierarquia dentro do terreiro.

O ato de turbantar-se também se faz presente em outros espaços, representando inclusive, hierarquias em alguns sistemas religiosos. Diferentes povos no mundo cobrem a cabeça por entender que essa é uma área de troca energética. Há indícios de que, no Oriente Médio, o turbante era usado antes mesmo do surgimento do islamismo. Os seguidores do candomblé, do Islam e os sikhs, na Índia, são exemplos de grupos sociais que têm esse ponto em comum, apesar de divergirem em suas práticas. 

Ainda que cada um possua suas motivações para turbantar-se, é necessário compreender que este feito carrega consigo origens históricas que revelam processos de luta e empoderamento, principalmente, de mulheres negras. Nesse sentido, é pertinente compreender que o empoderamento é um processo individual, mas, também coletivo e, doloroso. Consiste em reconhecer-se profundamente na raiz da nossa história enquanto mulheres negras, enquanto povo preto. É um processo de re(ex)istência e resiliência. Utilizar um turbante é diferente de incorporá-lo aos seus trajetos de vida. E, é exatamente quando conseguimos incorporá-lo às nossas trajetórias que, nos reconectamos com o divino ancestral. 

Eu espero que ao se turbantar, cada um de vocês, caros leitores, se reconectem e se reencontrem com a ancestralidade afro-brasileira. Experimenta cobrir o teu ori e olhar-se no espelho na tentativa de enxergar mais que o próprio reflexo! É libertador. 

Depois, conta aqui nos comentários como foi que se sentiu!

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