A definição de meritocracia no Brasil ganhou força nas duas primeiras décadas do século XXI.

A oposição usava este conceito para criticar o Governo Lula e o Governo Dilma. No entanto, a meritocracia, para ser válida, deve propiciar à toda sociedade as mesmas oportunidades. O Brasil, um país cheio de desigualdades sociais e, está longe de oferecer chances iguais para todos os cidadãos.

Mesmo assim, através de estórias de pessoas que superaram as dificuldades para estudar, parte da mídia começou a divulgar que era possível interromper o círculo da miséria apenas através do próprio esforço, romantizando  toda a situação.

Mas observamos em tabloides que quando se é rico a probabilidade de se conseguir uma boa colocação no mercado é maior – colocando à prova esse conceito liberal meritocrático. Isso pois, você viverá no meio dos decisores: eles serão seus amigos, colegas de escola e estágio, familiares e você não está com pressa de conseguir “qualquer vaga” – você terá todo o tempo, investimento, qualificação e apoio na sua carreira.

E sabemos que mesmo que você seja menos competente e menos qualificado é provável que você ganhe um voto de confiança (esse que representa também um pacto de raça/classe da branquitude patriarcal de auto-ajuda e manutenção dos privilégios raciais e classe) que colocará você à frente de outros candidatos.

Fora o fator de raça se torna um impeditivo a mais para pessoas racializadas socialmente – seja por racismo estrutural ou por ignorância dos contratantes (que também beira, se não é, racismo). O contratante na sua maioria brancos ou negros de mentalidade da classe dominantes (esses escolhidos a dedo pelo sistema) não tem costume de verem líderes negros em nenhum lugar, possívelmente não verá no currículo do candidato negros ou pobres, 4 línguas e viagens, intercâmbios pelo mundo e estágios nas maiores multinacionais. O que fará a não contratação dessa diversidade nas empresas.

 Como contratar alguém que faz parte da maioria da população é pauta de diversidade?

Brasilzão, 56% da população negra e a gente se vê por aqui. A meritocracia é racista, classista e sexista – e os próprios critérios são definidos por quem escolhe e para eles mesmos. Não se contratam negros ou pelo fenótipos ou por que o currículo do branco será melhor na maioria das vezes. Eles preparam seus filhos de todas as maneiras com todo recurso para serem seus sucessores e dão privilégios aos filhos homens em relação às mulheres; no geral, não suportam que seus filhos/as sejam da comunidade LGBTQIA+ e só vêem pobres e pretos como subordinados não capazes, pois não possuem relação de afeto, empatia e compreensão fora da sua bolha branca de classe média ou highclass.

Os critérios seletivos são muito convenientes para preservar o acesso e crescimento de patrimônio entre pessoas brancas, por exemplo:

• Vamos escolher em que esteve nas melhores escolas: quem está nas melhores escolas? Eles mesmos, Brancos e ricos…
• Experiência e vivência em ambiente executivo: que adolescente pobre ou negro convive num ambiente executivo de liderança?;
• Viagens e intercâmbios internacionais; que profissionais negros tiveram oportunidde de estágios internacionais e viagens mundo a fora?
• Muitas línguas? Que profissionais negros e pobres falam muitas línguas?
• Proximidade com o trabalho – quem mora perto dos principais centros empresariais? e quem mora muito longe ou “perto da criminalidade e do consumo deliberado de drogas”? Isso porque não veem o crime de colarinho branco como crime e o fazem vista grossa para o consumo gigantesco de drogas na classes mais abastadas~
• Networking amplo; que profissional negro e pobre conhece proximamente ou é super bem relacionado com os tomadores de decisão empresarial a nível nacional?
• Que pessoas pretas e pobres estão habituadas a viver liderança executiva e participar de eventos, fraternidades e jantares nos restaurantes mais caros do mundo?

Precisamos falar em um futuro próximo também de jovens negras e negros que possuem tudo isso e muito mais no currículo, mas não estão sendo os absorvidos pelo mercado.

 Como funciona a Meritocracia de fato no Brasil ?

Eles colocam seus filhos desde os 3 anos nas melhores escolas internacionais, proporcionam o gabarito de todos os critérios, dão todo apoio e ainda os indicam. E funciona da maneira eu indico seus filhos, vocês indicam os meus – a gente se mantém assim na esfera high society e do poder e fomenta que seja assim no nosso futuro – e se der tudo certo, que eles se casem.E mesmo quando o profissional negro é tão qualificado vindo lá de baixo ou veio de uma família que pode proporcionar esse mesmo gabarito – optam na sua maioria das vezes pelo branco, via das dúvidas né. E quando esse profissional negro é contratado, na maioria das vezes, posussue o mínimo letramento racial ou será a cota preta e estará no pacto disposto a se calar em relação as desigualdades visto suas dificuldades de acesso, mas sempre sua presença está lá para dizer que a empresa e os funcionários não são racistas.

Candidatos que passam estressantes processos seletivos às vezes 3 no mesmo dia durante meses – que parece que você está no circo ou se colocando a venda como uma feira de escravizados, tentando agradar o melhor “senhor” para ser comprado. Ainda muitas vezes encontramos dilemas grandes de problemas familiares e pessoais, fome, pobreza e com baixíssima autoestima, distância e falta de motivação no meio disso tudo.

Nosso mercado de trabalho tenta dizer que não é, mas infelizmente ainda é fruto de uma herança patriarcal e escravocrata.