Racismo estrutural: quando a nossa exclusão é a norma da sociedade?

Racismo estrutural_ quando a nossa exclusão é a norma da sociedade

Racismo estrutural é um tema que ganhou bastante destaque ultimamente, chegou às grandes massas e, apesar do impacto positivo que é a discussão deste assunto em mesas de bares e sessões de comentários, o seu significado acabou se perdendo um pouco quando, por exemplo, algum artista ou influencer comete racismo e se justifica com a máxima “foi uma fala de racismo estrutural”. Quer entender um pouco mais sobre o que é o racismo estrutural e como ele está enraizado no pilar de toda a nossa sociedade? Fica que iremos refletir um pouco sobre essas questões no post de hoje. 

Antes de qualquer coisa, precisamos partir de uma premissa muito simples, porém que às vezes, por ignorância ou maldade, acabou se perdendo em algumas discussões: RACISMO ESTRUTURAL É RACISMO PURO E SIMPLES. Não é uma forma de racismo, não é “menos racismo” e não pode ser utilizado como um atenuante de falas ou atitudes racistas. Quando alguém comete qualquer modalidade de racismo e responde com “foi racismo estrutural”, está tão apenas e somente confirmando que realmente foi racista, porém sem entender (ou sem querer entender) as implicações disso. 

Quando falamos em formas de racismo como o estrutural, o recreativo, o institucional etc estamos falando em divisões acadêmicas que possibilitam estudar e entender os desdobramentos de como o racismo funciona na sociedade brasileira, uma vez que esteja presente desde o primeiro dia em que os portugueses puseram os pés em nosso litoral, mas todas essas divisões não são subcategorias de racismo, são formas em que o racismo se manifesta, sem que haja uma hierarquia entre elas. 

Falando especificamente sobre racismo estrutural, é um termo muito bem resumido no livro de Silvio Almeida que leva este mesmo nome. Por muito tempo nós acreditamos e creditamos o racismo a uma mera conduta individual, um problema de quem manifestava o racismo. Ocorre que, observando melhor (e aqui cabe destacar que diversos autores e autoras negros e negras já vem apontando esse caráter universal do racismo há tempos), podemos notar que o racismo está presente no cerne da sociedade brasileira, em toda a sua constituição e se manifesta nas mais diversas áreas.

Silvio Almeida destacou a relação do racismo com alguns dos pilares principais da sociedade brasileira, quais sejam: Ideologia, destacando sobre como o racismo está presente no nosso imaginário e na nossa cultura; Política, quando ele discorre sobre a formação do estado brasileiro demonstrando como o racismo estava presente desde a constituição do país até os dias atuais; Direito, explicando como, mesmo sob o falso pretexto de universalidade, este ramo serve como mantenedor do sistema racista e economia, destacando as relações existentes entre raça e classe.

Em outras palavras, podemos afirmar que estamos todos inseridos em um sistema que foi pensado desde o começo para excluir (e matar, mas esse ponto em específico é assunto pra um outro texto) pessoas pretas. As novelas, filmes, propagandas e todos os referenciais do que é ser bonito, capaz, inteligente e desejável repousam sobre características brancas e incluídas num padrão inalcançável até pra eles mesmos, quiçá para pessoas pretas. 

O racismo é uma invenção para inventar o outro e nessa empreitada, a branquitude se colocou enquanto referencial de normalidade, reservando para as pessoas prestas a animalidade. Isso se verifica, por exemplo, ao lembrarmos que a “justificativa” para o processo de escravização, com o aval da igreja católica, era de que pretos não tinham almas e portanto não eram seres humanos. 

O que a branquitude precisa, com certa urgência, é se compreender enquanto um grupo racializado (e não universal), bem como as implicações disso na construção social, para que, a partir disso possamos discutir as questões raciais com a seriedade que elas exigem e sem utilizar subterfúgios como “foi uma fala de racismo estrutural” para justificar atitudes racistas. O meu desejo é que as pessoas (e instituições) brancas compreendam que não existe algo que se possa chamar de racismo reverso e empreguem energia no combate ao racismo, um problema real e urgente. 

E então você, pessoa branca que chegou ao final desta leitura, já refletiu sobre quanto esforço você emprega para entender como as relações raciais funcionam? Como a estrutura racista da nossa sociedade faz com que pessoas pretas sintam-se parte excluída da sociedade? Fica o convite.

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