Entenda porquê precisamos falar sobre branquitude para fortalecer a luta antirracista.

Branquitude

Pessoa branca, esse texto é pra você! Vou te explicar porquê você precisa pensar sobre branquitude se deseja contribuir de verdade com o movimento antirracista.

Para iniciar quero te fazer algumas perguntas: O quanto você pensa sobre raça no seu dia a dia? Quantas vezes por dia você se questiona e analisa suas ações e possibilidades levando em consideração sua raça?

Pois é, raça não é uma questão na sua vida, né? Se você pensa sobre isso foi por uma escolha, não por uma necessidade de sobrevivência. Isso se chama privilégio e é uma das muitas facetas da branquitude. 

De forma bem resumida, pode-se dizer que a branquitude é uma construção social que nasceu no pós-abolição, a partir de ideias higienistas e eugênicas, embasadas em pseudociências, num projeto nacional de branqueamento da população.

Esse projeto, organizado formalmente pelos governantes da época, incluiu a vinda dos imigrantes europeus para o Brasil, numa tentativa desesperada de fazer com que a miscigenação e o genocídio eliminassem a população negra e indígena do país.

Para auxiliar na execução do mesmo, com o intuito de criar uma ideia de que esses grupos raciais representavam uma ameaça à sociedade brasileira, ações diárias de disseminação e manutenção de ideias que vinculavam suas características fenotípicas à má conduta, violência, antiética, hipersexualização, feiura, menos capazes intelectualmente, enfim, uma infinidade de inverdades ditas e reforçadas muitas vezes por meios de comunicação e outros artefatos, faziam parte deste grande plano de branqueamento.

Isso tudo unido ao medo da população branca, ao seu poder já instaurado, se fortaleceu excluindo ainda mais as pessoas negras e indígenas social e economicamente e colocando as pessoas brancas em um lugar de superioridade, de poder, tornando-as o que veio a se considerar o ideal de pessoa, a norma, o padrão. 

Então, a branquitude é um lugar de poder social que gera privilégios materiais e simbólicos aquelus que são considerades pertencentes ao grupo racial branco, o qual possui uma pretensa ideia de invisibilidade, de não racialidade, de normatividade.

A raça não é uma exclusividade do outro não, pasmem! Assim como existe uma infinidade de características vinculadas ao fenótipo das pessoas não brancas, existem também as vinculadas ao fenótipo branco. A diferença é que tudo que é voltado às pessoas brancas é positivo, é colocado como ideal, portanto, pouco se fala ou pensa sobre isso e sobre o impacto que essa leitura gera socialmente. Mas um corpo branco carrega diversos símbolos e marcadores que são lidos socialmente e que proporcionam privilégios em relação aos outros grupos raciais. 

Sim, você pode estar aí achando que é tudo uma grande besteira, mas eu tenho como provar de forma bem simples. Peggy McIntosh, em 1989, escreveu uma lista elencando privilégios que ela constatou em seu dia a dia, dos quais destaco os seguintes:

– Posso fazer compras sozinha sabendo que não serei seguida ou assediada;

– Posso ligar a televisão ou abrir a primeira página do jornal e ver pessoas da minha raça amplamente representadas;

– Posso ter certeza que meus filhos receberão materiais curriculares que atestam a existência da raça deles;

– Consigo proteger meus filhos a maior parte do tempo de pessoas que podem não gostar deles;

– Nunca sou chamado a falar em nome de todas as pessoas do meu grupo racial;

– Se um guarda de trânsito me pede para parar ou se um fiscal da receita auditar meus impostos, posso seguramente saber que tal decisão não ocorreu por conta da minha raça;

– Posso facilmente comprar pôsteres, cartões postais, livros infantis, cartões de aniversário, bonecas, brinquedos e revistas infantis com fotos de pessoas da minha raça;

– Posso escolher acomodações públicas sem temer que as pessoas da minha raça não poderão entrar ou serão destratadas nos lugares que eu escolhi;

– Posso ter certeza que se eu precisar de ajuda médica ou legal, minha raça não trabalhará contra mim;

– Se meu dia, semana ou ano está indo mal, não preciso questionar se cada episódio negativo tem um subtexto racial;

E acrescento mais:

– Posso abrir minha bolsa no meio do mercado ou de uma loja sem me preocupar de ser repreendida ou mal interpretada;

– Posso ir conhecer a família da pessoa com quem me relaciono sabendo que se não gostarem de mim é por causa da minha personalidade e não da minha raça;

– Não preciso me preocupar com a imagem de uma pessoa da minha raça participante de um reality show, pois isso não vai influenciar a forma como a sociedade me vê;

– Não preciso me preocupar em sair de casa sem documentos;

– Posso morar em qualquer bairro da cidade sem me preocupar se a vizinhança será hostil comigo por conta da minha raça.

Enfim, a lista é infinita. McIntosh chamou essa atitude dela de desfazer a mochila invisível, essa mochila, no caso, está cheia de privilégios. É inegável que eles existem, só o fato de termos a possibilidade de não pensar sobre isso, de ignorar a raça do nosso dia a dia, já é um baita privilégio, significa que ela não atrapalha nossas vidas. 

Racismo é um problema social que existe da relação racial. Se existe uma relação racial é porque existe mais de uma raça, uma que exerce o racismo e o mantém e outras que sofrem com isso.

 Quem deve, então, pensar sobre raça, afinal? As pessoas que sofrem com isso? Ou seria as que mantem essa estrutura de violência, discriminação e opressão? Racismo é um problema nosso, das pessoas brancas. Nós precisamos agir para que isso tenha fim. O racismo é estrutural, ele vai muito além das nossas ações individuais, mas só conseguiremos caminhar no sentido da mudança se começarmos a desfazer nossas mochilas invisíveis e questionar nossos privilégios, questionar a estrutura, abrir mão, entender que temos vantagens e que meritocracia e democracia racial são uma mentira deslavada para manter o status quo. E não adianta esperar que as pessoas não-brancas nos ensinem sobre racismo, elas estão cansadas e não tem essa obrigação. Temos que ir atrás, ler, nos informar. É o mínimo que podemos fazer!

Agora conta pra gente nos comentários quais outros privilégios você identifica que tem por ser uma pessoa branca ou quais você não tem por ser uma pessoa não-branca?

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