Vamos falar sobre café, bell hooks e afeto?

Vamos falar sobre café, bell hooks e afeto

A proposta era falar sobre mulher negra e afeto, eu como mulher negra que quer afeto achei, que começar com este assunto era uma boa ideia, mas descobri que para o meu EU poeta que dança com as palavras, falar sobre afeto é muito abstrato, então decidi falar do cheirinho do café fresco, logo cedo, sabe quando invade sua narina e te transporta para o dia, um dia de preguiça, que não precisa levantar correndo, que as horas podem seguir o curso delas que isso não impacta em nada o seu dia e você pode sentir e se entregar então ao calorzinho que corre no corpo a cada gole, minha nossa, sorri aqui ao lembrar disso! Ou então eu posso falar sobre arroz com feijão da minha mãe, isso essa coisa bem simples, bem com gosto de comida feita em casa, que inevitavelmente me lembra aconchego, é tipo um colo, um lugar seguro onde eu posso só existir e encher minha barriga, ou seja, lugar perfeito. 

Eu acredito que o nosso coração tem uma ligação com o estômago, estamos mais propícios ao amor de barriga cheia, parece que quando nossa sobrevivência básica não está ameaçada começamos a conseguir olhar a nossa volta com outros olhos, o que explica algumas coisas. bell hooks em um dos meus textos favoritos, o “Vivendo de amor” fala sobre o amor e a população preta, trazendo um paralelo que eu nunca havia feito antes mas que tem a ver com a minha afirmação acima, quando olhamos para a história do mundo e  para a escravização das pessoas negras, conseguimos entender algumas posturas que perduram até hoje. 

Amar em tempos violentos pode ser muito perigoso, logo o amor e qualquer tipo de demonstração de afeto ou carinho era desencorajado, diminuído, alguns tinham posses de pessoas negras e usavam demonstrações de afeto para manter a subjugação que já era comum a eles naqueles tempos. Além disso, a forma como as pessoas negras eram tratadas na sociedade faziam com que elas replicassem este comportamento dentro de suas casas e com sua família, internalizando que estes não eram merecedores de amor, carinho ou afeição de nenhum tipo, logo tudo isso foi passando de geração em geração, desde aqueles tempos, afinal, não posso ensinar o que eu nunca aprendi e mais não posso passar adiante o que acredito não merecer, essa reflexão sempre me mostra o quanto o amor é um ato revolucionário, amor sem miséria é o que pode manter nossa chama viva e o coração ativo. 

Quando eu observo a minha família, percebo quantas das mulheres, minhas primas, amigas e conhecidas negras, seguem suas vidas sem dividir o afeto de forma saudável e fica posto que isto ainda é resquício destes tempos tão violentos que ainda encontram solo fértil até hoje. Logo, falar de mulher negra e afeto é a busca constante de um caminho onde esta revolução seja possível, imaginando que para que sejamos rio que corre com afeto, é necessário ser primeiro nascente, e que para ser nascente é preciso aprender. 

Que complicado, né?  Como se perde o medo do erro, do desencontro, do castigo? 

O afeto não é um caminho simples, ele é o caminho da observação constante, da atenção e da consciência de que quando bem cuidado, vale a pena.  O jeito é pensar o afeto tipo uma planta, sabe? rega, coloca ao sol, e tem paciência que ele cresce, e se espalha pelos poros e faz você repensar sua vida e perceber que ele está em tudo, faz você entender que o cheirinho das coisas que você gosta de comer, ou o sorriso da pessoa que você gosta e o jeito que seu coração reage a isso, nada mais é do que afeto, puro e simples.

E você, como pensa o afeto ? Quando ele te pega no colo e você se sente preenchida( o) por ele ? Conta aqui nos comentários ! 

Compartilhe nas redes sociais
Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress