Caso Arezzo e a apropriação cultural em marcas de moda

Na semana passada super repercutiu a campanha da Arezzo que em um modelo em parceria com a marca Meninos Rei com estampas africanas tinham a Jade Picon estrelando a campanha. A coleção é em comemoração aos 50 anos da marca, e faz uma alusão aos anos 70, trazendo o modelo anabela de volta à coleção. Para comemorar seus 50 anos, a Arezzo escolheu cinco nomes da moda para representar modelos de calçados que marcaram cada década de sua existência. Uma delas se inspirou na África e teve sua imagem ligada à da influenciadora, o que gerou diversos comentários negativos nas redes sociais da marca.

As peças produzidas fazem alusão aos turbantes utilizados por mulheres negras e africanas. Ocorre que, para essa campanha, a Arezzo convidou cinco nomes da moda brasileira para reinterpretarem os modelos icônicos de cada década. Deste modo, a Meninos Rei foi selecionada para representar a década de 70’s, fazendo a releitura da sandália Anabela. De acordo com a etiqueta convidada, a inspiração surgiu da própria “ancestralidade”.

“Mas por que gerou tanta revolta?” Você deve estar se perguntando, se vocês repararem em nenhum momento a Arezzo em suas postagens diz que é em valorização a cultura negra, como saíram em diversas páginas, olha o apagamento aí, sendo que toda a identidade, no caso estampas, são estampas claramente de identidade negra.

Quando a gente fala sobre apropriação cultural a gente está  falando do esvaziamento da cultura e de quem está ganhando dinheiro com tudo isso. A gente sabe que marcas pretas não conseguem apenas ser uma marca, elas precisam sempre falar sobre raça, e essa situação é um desenho claro, pois a marca está sendo cobrada, ao mesmo tempo que quais são as marcas pretas que de fato estão tendo visibilidade e ganhando dinheiro com os seus próprios produtos?

Mas o que é apropriação cultural?

A apropriação cultural nada mais é do que adotar elementos de outras culturas fora de seu contexto original, geralmente dando a elas uma interpretação eurocêntrica, os tornando adequados para serem vendidos como produto – mais um dos grandes engodos do capitalismo. Tomar símbolos religiosos, desenhos e grafismos de determinada etnia, signos políticos e sociais de algum grupo (normalmente não-branco), e esvaziá-los de significado para transformá-los em algo puramente estético – isso definitivamente é apropriação cultural.

Em 2020 duas marcas internacionais importantes foram acusadas de apropriação envolvendo a cultura popular do nordeste brasileiro. Uma delas foi a italiana Prada, que em sua coleção Pre Fall 2020 lançou uma sandália de couro trançado, muito semelhante àquelas produzidas e vendidas em feiras por artesãos nordestinos.

Outra situação polêmica envolveu a marca inglesa Alexander McQueen, cuja coleção contava com peças estampadas com desenhos que lembravam muito as xilogravuras dos cordéis nordestinos. Brasileiros atentos chegaram a pedir um posicionamento de Sarah Burton, diretora criativa da marca, mas sem sucesso.

 Por que o  caso da Arezzo  se torna apropriação cultural?

Quando se fala de apropriação cultural a questão não é se pode ou não usar, então a Jade Picon na campanha em tese não seria um problema, Clara Buarque que é uma mulher negra, também está na campanha.

Então analisando tudo o problema não é a Jade Picon estar na campanha, se torna problemático o fato de terem alisado o cabelo da mulher negra Clara Buarque, porque ela já tem pele clara e traços finos, alisar o cabelo dela  acabou mostrando um esvaziamento ainda mais da sua identidade negra, quase que dizendo: ‘queremos as estampas, mas não a negritude”

Outro problema  é o fato das estampas não serem autorais, sendo que a Meninos Rei tem estampa autoral, na coleção escolheram uma padronagem conhecida, usada por diversas marcas, e que poderia ser Meninos Rei ou qualquer outra. Isso faz com que a Arezzo use a Meninos Rei de bengala para a sua apropriação cultural.

Enfim, é um problema muito complexo, principalmente nesse lugar que marcas pretas ainda estão nadando para alcançar seus espaços, entendo aproveitar as oportunidades, e aí a gente entra na questão, de quem vocês estão consumindo? Quem vocês estão divulgando? Porque a crítica gerou muito engajamento, visibilidade, e muito provavelmente muita grana pra Arezzo, enquanto nós marcas pretas temos quase que implorar por uma curtida, comentário e compartilhamento.
E ai eu te questiono sempre, qual sociedade você quer? A sua ação está para a crítica, ou pelo apoio?l
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